RESENHA DA OBRA "NOTAS INCOMPLETAS SOBRE ASSUNTOS DO TEMPO", DE VALTER HUGO MÃE, POR DÉBORA SHOENHALS E JÉSSICA DUARTE DE OLIVEIRA.


memória, tempo e afeto
Autores da Resenha:
Débora Shoenhals, acadêmica do curso de Letras da UNIVILLE
Jéssica Duarte de Oliveira, acadêmica do curso de Letras da UNIVILLE
Referência do Texto:
MÃE, Valter Hugo. Notas incompletas sobre assuntos do tempo. Curitiba: Gusto Design, 2014. p. 17-23.
Palavras-chave (3):
Notas; memória; tempo.
Desenvolvimento do Texto:
 “Notas incompletas sobre assuntos do tempo”, escritas por Valter Hugo Mãe e apresentadas pelo autor no Festival Literário “Litercultura” em agosto de 2014. Transcrito em sete páginas, sem figuras ou imagens, discorre sobre os assuntos que permeiam a efemeridade do tempo e a memória, como ele próprio expõe como “a única possibilidade de regresso” quando, um dia, somente ela restará. Todavia como um refúgio para nos deter naquela brevidade de outrora que o tempo insiste em apagar.

O texto inicia com uma breve reflexão sobre o passar e a crueldade do tempo, mencionando a memória como a única sobrevivente deste e, então, nem mesmo ela restará. Em seguida, o autor utiliza da construção de memórias afetivas para ilustrar os significados que nos tornam humano, encerrando suas reflexões com a conclusão de que o amor é o que torna a memória algo intrínseco ao ser humano, e não a materialidade do corpo e dos objetos.
Hugo Mãe compara o tempo como um roedor que enumera o envelhecimento e com ele as coisas boas se dissipam. O tempo é um verme que corrói devagar todas as coisas boas da vida quando tudo o que desejamos é que ele seja todas as maravilhas, tudo aquilo que amamos juntos e contemplando a beleza que é viver.
O autor nos apresenta a seguinte frase em um tom aparentemente autobiográfico:
                                         Eu respondi que nós somos o que somos também porque estamos rodeados do que nos rodeia e o único modo de tudo continuar é cuidar que nada se perca. O meu pai disse: isso é memória. Não é uma árvore, é a memória da árvore que vai ser fundamental na tua vida. (MÃE, 2014, p. 18)
 Embora aquilo que nos rodeia constitua o nosso ser, é a lembrança de todas as coisas que futuramente nos dirão quem fomos, pois as árvores podem ser cortadas, as pessoas se vão, as coisas vão sendo substituídas, porém seu significados, suas sensações provocadas em nós, nos habitarão e nos dirão que realmente tudo o que aconteceu realmente aconteceu, e através do tempo nós permanecemos, principalmente quando sabemos nos reconhecer no outro e sermos reconhecidos numa reciprocidade  e “num grau de desarmada intimidade”.
                                         Nós estamos de volta quando alguém acompanha a nossa história, quando alguém sabe de que árvore estamos a falar. Se ninguém acompanhar a nossa história a gemente não volta porque não tem para onde voltar, simplesmente seguimos sem sentido porque tudo quanto somos e fazemos se desperdiça na solidão. A solidão pode ser um estágio, mas ela não é um destino do homem. Ela é uma experiência do homem mas aquele que se entrega à solidão optou por perder a humanidade. (MÃE, 2014, p. 19)

Para o autor, o sentido da vida está nos outros que dão origem, legitimam e completam a nossa existência, bem como é através dos outros que a felicidade se faz, na troca, na partilha, no acolhimento.
                                         A humanidade é memória e, por isso, é um coletivo. A humanidade implica regresso e o regresso, (...) é lembrar e ser lembrado. Ser gente implica os outros e os outros são a nossa transcendência, aquela que verdadeiramente nos deve preocupar. Assim, ainda que algo esteja fora de mim pode ser essencial para me completar, identificar, definir. Por natureza, mesmo na hipótese de deus não existir, a humanidade já é transcendência. Ela está acima do corpo, ela está no outro, começa com a existência do outro. (MÃE, 2014, p. 19)

Nós transcendemos do outro, somos parte dos nossos pais, por exemplo, e ao sermos. Como o autor coloca, quando alguém ver nas ruas a nossa mãe ou nosso pai, pode-se dizer que está vendo a nós mesmos. Partes de nós que habitam aquela pessoa.
Também nas coisas, nos objetos, nós transcendemos, pois neles há muito o que contar de nós. Neles depositamos nossas melhores ou piores lembranças. De uma viagem concretizada ou não, dos lugares visitados, de pessoas especiais, que permanecem ou que se foram, de momentos, de sabores, de saberes. Somos parte daquilo que temos. Guardamos partes de nós e essas partes de nós são pequenos fios de memória que se impregnam sutilmente naquilo que possuímos.
E toda essa transcendência, essa parte de nós que está fora de nós, está definida pela memória. E a memória é afeto, é ter a quem chamar de lar, é o oposto da solidão. É apenas na conexão humana que o ser humano se reconhece enquanto pertencente a algo maior que ele próprio:

                                         Quando o filósofo Edmund Husserl define a transcendência como aquilo que está fora de nós, talvez não tenha perspectivado que a identidade do humano está fora de cada um. A humanidade é memória e, por isso, é um coletivo. A humanidade implica regresso e o regresso, como bem aprendi com o meu pai, é lembrar e ser lembrado. (MÃE, 2014, p. 20)

De forma sutil, em meio ao fluxo de pensamentos frenéticos expressados com uma linguagem lírica que levam o leitor a acreditar que ele próprio vivenciou as memórias relatadas no conto, chega-se ao fim de toda a memória com a inevitável morte. Hugo Mãe diz que “conceber a morte parece sinal de desistência” (MÃE, 2014, p.21) quando se perde alguém sem estar preparado. É inevitável a reflexão de onde está localizada a memória quando se trata deste assunto, se o corpo, mero objeto, é o suficiente para carregar a conexão humana como as árvores da infância do autor carregaram, um dia, o sentimento de pertença:
                                        
                                         Eu mantinha na cabeça a história da memória das árvores. Pensava em como seria verdade ou mentira a necessidade de manter apenas a memória. Se eu ainda lembrasse muito o meu pai, seria possível que vê-lo tornado esqueleto me parecesse normal. Essa era a questão. Poderia aquele esqueleto ser ainda a memória bastante do meu pai, ao ponto de eu sentir que tinha mais um dia com ele, um maravilhoso e inesperado dia extra. (MÃE, 2014, p. 22)

E é então, com a brutalidade do tempo e o decompor da carne, que o autor concluí que não é a materialidade que carrega a ternura da memória. O corpo, os objetos e as árvores nada mais são do que receptáculos de sentimentos que extravasam a razão. O tempo, que outrora fora comparado com um verme, pode destruir tudo, e o que resta, no final, é o amor. Amor esse, como colocado por Hugo Mãe, que se sente por dentro, na alma.

Observações:
Mesmo para leitores que nunca refletiram a respeito desse tema, o texto não é de difícil entendimento, uma vez que a liricidade construída pelo escritor conversa com a essência de todos que um dia se conectaram a algo ou a alguém. As palavras selecionadas são de fácil compreensão, ainda que a grafia esteja no português lusitano e muitas vezes os sinais de pontuação e suas regras sejam deixados de lado por questões estilísticas. O texto é carregado de reflexões acerca de algo que une os homens: o sentimento.


Resenha da peça "Vozes de Abrigo", com texto e direção de Fábio Nunes Medeiros - 2017, por Taiza Mara Rauen Moraes

VOZES DE ABRIGO
Autora da Resenha:
Profa. Taiza Mara Rauen Moraes
Mestrado Patrimônio Cultural e Sociedade/Letras/PROLER UNIVILLE
Ficha técnica do espetáculo dramático musical com teatro de animação:
Vozes de abrigo
Ano de Lançamento: 2017
Gênero: espetáculo dramático musical com teatro de animação
Texto e Direção: Fábio Nunes Medeiros
Direção Musical: André de Souza
Assistência de direção: Jordana Carvalho Meirelles
Assistência de produção: Ana Paula Melgarejo, Carol Scabora, Rosane Freire
Atores-animadores: Dayane Padilha, Hudson Biscaia, Janaina Graboski, Jean Cequinel, João Muniz, Júnior Obata, Maicon Silvério, Paola Kulik
Orientação da equipe de visualidades: Flávio Marinho
Cenário e figurino: Fábio Nunes Medeiros
Costura: Deo Araújo e Juraci Carneiro
Formas animadas: Alan Martins, Anne Caetano, Fábio Nunes Medeiros, Flávio Marinho, Hudson Biscaia, Janaína Graboski, Jean Cequinel, João Muniz, Júnior Obata, Lucas Berthier Cardoso, Renan Turci
Modelagem dos bonecos: Fábio Nunes Medeiros, Flávio Marinho, Hudson Biscaia
Iluminação: João Muniz e Fábio Nunes Medeiros
Músico: André Souza (piano)
Cenotecnia: Lucas Berthier Cardoso
Maquiagem: Daiane Padilha  e Janaína Graboski
Assessoria de comunicação: Rosane Freires
Design Gráfico: Wanderson Barbieri Mosco
Teaser:Renan Turci
Fotografia:  Juliana Luz
Filmagem: A lan Martins e Flávia Wolfart
Operação de luz:  Jordana Carvalho Meirellles e Maycon Lorkievicz
Equipe de apoio: Ingrid Vidal, João Daniel Vidal
REALIZAÇÃO: LAICA  /  APOIO:  Faculdade de Artes do Paraná / UNESPAR




Palavras-chave
 VOZES – ABRIGO - SONHOS
Desenvolvimento do Texto:
Vozes de abrigo, espetáculo dramático musical com teatro de animação, escrito e dirigido por Fábio Nunes Medeiros e musicado por André de Souza, grita e ecoa a solidão humana, a dor e a luta para a construção de sonhos alimentadores da existência. Existir é interagir com o outro, nascemos da união de dois seres e nos constituímos dia a dia na relação com o outro numa troca de experiências/vivências/sonhos delineando histórias que nos marcam como sujeitos no mundo. A peça Vozes de Abrigo põe em pauta experiências de rejeição de crianças invisíveis que lutam pela visibilidade e para sair do não-lugar do abandono acionando as linguagens do teatro de animação e do drama musical. O espectador é chamado cena a cena para ativar sua “anima”/”humanizar-se” e olhar para o outro num movimento metafórico de auto constituir-se, perceber o outro e perceber-se numa relação contínua de imbricamentos de sentimentos e emoções. O abandono é configurado como desumanizador por matar gradativa e lentamente a seiva que circula nas nossas raízes, eliminando a água fonte da vida. A montagem articula histórias fictícias e reais de crianças abrigadas, contadas com a magia teatral de atores/manipuladores de bonecos e que se transfiguram em marionetes desvelando o jogo social que transforma sujeitos em objetos e manipula sonhos. Viver é experienciar aconchegos e abandonos, assim a peça é um clamor de vozes musicais para que reavivemos nossa humanidade acolhendo e abrigando o outro em nossos sonhos.     

SÍNTESE DA PEÇA TEATRAL
Crianças de abrigo são como sementes plantadas no vento, são como sonhos esperando para serem sonhadas.


Resenha Crítica do filme "Medianeras - Buenos Aires na Era do Amor Virtual", de Gustavo Taretto, por Taiza Mara Rauen Moraes

MEDIANERAS - BUENOS AIRES NA ERA DO AMOR VIRTUAL 
Autora da Resenha:
Taiza Mara Rauen Moraes
Mestrado Patrimônio Cultural e Sociedade/ Letras/ PROLER UNIVILLE
Referência/ficha técnica do filme:
Medianeras- Buenos Aires na Era do amor virtual
Ano de Lançamento: 2011
Gênero: Romance, Comédia, Drama.
Direção: Gustavo Taretto
Roteiro: Gustavo Taretto
Elenco: Adrián Navarro, Carla Peterson, Inés Efron, Javier Drolas, Pilar López de Ayala, Rafael Ferro, Romina Paula
Fotografia: Leandro Martínez
Trilha Sonora: Gabriel Chwojnik
Duração: 95 min.

Palavras-chave (3):
ESPAÇO URBANO - BUENOS AIRES - AMOR NA ERA VIRTUAL
Desenvolvimento do Texto:

Medianeras - Buenos Aires na Era do amor virtual foca em sua narrativa duas vidas solitárias: Martin (Javier Drolas), um escritor solitário que detesta sair de seu pequeno apartamento e Mariana - arquiteta (Pilar López de Ayala), recém-traumatizada pelo término de um relacionamento de quatro anos, que vive num apartamento próximo de Martim, porém separados por medianeiras, paredes muros, que separam espaços e vidas. Ambos moram na metropolitana Buenos Aires, cidade desvelada em cenas panorâmicas que explicitam sua beleza e suas contradições. Martin, verbaliza a solidão num mundo tecnológico-“Há algo mais desolador no século 21 que não ter nenhum e-mail na caixa de entrada?” e Mariana  num convívio silencioso com livros e com manequins de vitrines dialogando consigo mesma. O isolamento dos protagonistas é mostrado como decorrente da degeneração das relações sociais advindas do excesso de urbanização e do isolamento físico do mundo tecnológico. A trama é tecida pela exposição das vidas solitárias dos protagonistas, seus problemas, suas neuroses. As sequências narrativas apresentam como os personagens lidam com a solidão: Martin sai com Ana, passeadora de cachorros, ou com Marcela, que conhece pela internet, e Mariana com um amigo do trabalho e um homem que conhece na natação. Apesar de serem vizinhos e de passarem pelas mesmas ruas e frequentarem a mesma academia de natação, não se conhecem.  O filme se fragmenta em três tempos: outono, inverno e primavera, incorporando o pensamento filosófico proposto por Bauman em “Amor Líquido”, recortado na relação “Afinidade e Parentesco”. Segundo, Bauman, o parentesco é um laço irredutível e inquebrável, é aquilo que não propicia escolhas, enquanto que a afinidade ao contrário é voluntária, é uma escolha. Porém, numa sociedade que impera o descarte, até as afinidades se tornam raras e as pessoas clamam por amor e amparo, pois ser digno de amor é algo que só o outro pode demarcar. Daí a angústia do enfrentamento ante essa condição incerta e líquida - nas quais o amor nos é negado? Os amores e as relações humanas marcadas pela instabilidade metaforicamente indiciam que caminhamos sob neblina numa atmosfera sem nitidez. O mundo virtual introduz a facilidade de “desconectar-se” e assim as pessoas passam a ter dificuldades de manter um relacionamento de longo prazo, pois estão consumindo e se consumindo nas relações, ou seja, caso haja defeito descarta-se impedindo espaços de abertura para os sonhos e para as experiências que propiciam viver as contradições. Na cena final, Mariana e Martín se permitem viver seus sonhos... Martim se veste como o personagem Wally, do livro de cabeceira de Mariana, cujo foco narrativo é proporcionar ao leitor o encontro com o personagem no meio da multidão urbana e pela minúscula janela aberta clandestinamente na medianeira de seu apartamento o identifica na multidão urbana e corre ao seu encontro...

SÍNTESE DO FILME: FALA DE MARTIN
- Há algo mais desolador no século 21 que não ter nenhum e-mail na caixa de entrada?


PUBLICAÇÕES ONLINE II

Hibridismos de linguagem - um recorte sobre a identidade cultural da língua alemã em Joinville (SC) - 2017
(Autoras: Taiza Mara Rauen Moraes e Jade Grosskopf)

“SE É SEMPRE OUTONO O RIR DAS PRIMAVERAS”: GÊNERO, PODER E BIOGRAFIA EM UMA ANÁLISE FOUCAULTIANA - 2017

(Autoras:Marília Garcia Boldorini, Roberta Barros Meira, Taiza Mara Rauen Moraes)

A LEITURA E A ESCRITA EM MUTAÇÃO: EXPERIÊNCIAS NO MEIO DIGITAL - 2016

(Autores: Adair Aguiar Neitzel, Taíza Mara Rauen Moraes, Cleide Jussara Muller Pareja) 

MONTEIRO LOBATO: RACISTA OU RETRATISTA DE SEU TEMPO? -2016

(Autoras:Marília Garcia Boldorini1 Taiza Mara Rauen Moraes) 

OLHARES SOBRE A VELHICE EM ESCRITOS POÉTICOS CONTEMPORÂNEOS DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, CECÍLIA MEIRELES E MÁRIO QUINTANA - 2016

(Autoras:Mara Falcão Palhares Barbosa, Taiza Mara Rauen Moraes)

“MEU PRIMEIRO VIOLINO” E A EXPERIÊNCIA DE NOVOS LEITORES NO CAMPO MUSICAL PARA A DIFUSÃO DO PATRIMÔNIO MUSICAL EM JOINVILLE – SC - 2016
(Autores: Pedro Romão Mickucz, Taiza Mara Rauen Moraes)

UMA EXPERIÊNCIA DE LEITURA DO LITERÁRIO EM MEIO VIRTUAL - 2015

(Autores: Taiza Mara Rauen Moraes, Carolina Reichert, João Marcos da Silva)

CRIANÇAS E ADOLESCENTES ACOLHIDOS: A MARGEM DO RIO – A MARGEM DA VIDA - 2014
(Autoras: Taiza Mara Rauen Moraes, Laura Meireles Gomes Moura)

FRAGILIDADES NA ESCRITA, FLUIDEZ RELACIONAL- 2014
(Autoras: Taiza Mara Rauen Moraes, Rosilda da Silva)

FLUXOS IDENTITÁRIOS A PARTIR DO REFERENCIAL LINGUÍSTICO E INTERFACES CULTURAIS: UM ESTUDO SOBRE TRANSFORMAÇÕES E DESLOCAMENTOS CULTURAIS ENTRE DESCENDENTES DE ALEMÃES EM JOINVILLE-SC - 2013
(Autores: Jailson Estevão dos Santos, Taiza Mara Rauen Moraes)

A POÉTICA DO CIBERESPAÇO: ENTRELAÇAMENTO DE DIFERENTES LINGUAGENS - 2012
(Autoras: Elisangela Viana, Taiza Mara Rauen Moraes)

A leitura e a escrita do literário em meio eletrônico - 2012
(Autores: Adair de Aguiar Neitzel,  Luiz Carlos Neitzel, Taiza Mara Rauen Moraes e Elisangela Viana)

UM ESTUDO COMPARATIVO DAS PERSONAGENS OFÉLIA, DE CLARMI RÉGIS E DE SHAKESPEARE, ENFOCANDO: REPRESENTAÇÃO LITERÁRIA, LINGUAGEM E TEMPO - 2011
(Autores: Tânia Graciele Belo, Taiza Mara Rauen Moraes)

MONUMENTO AO IMIGRANTE: UMA ANÁLISE SEMIOLÓGICA - 2011
(Autoras: Eliana Terezinha Viana Moser, Taiza Mara Rauem Moraes)






Resenha crítica do texto "O campo musical em expansão", de Lucia Santaella, por Marcus Carvalheiro

Resenha Crítica
Autor da Resenha:
Marcus Carvalheiro
Referência do Texto:
SANTAELLA, Lucia. O Campo musical em expansão. In: Matrizes da Linguagem e Pensamento: Sonora, Visual, Verbal. São Paulo: Iluminuras, 2005, pp. 81-96.
Palavras-chaves (3):
Música; linguagem; estética/técnica.
Desenvolvimento do Texto:
       Em O Campo Musical em Expansão, Lúcia Santaella busca elucidar esta transição de percepção da arte no mundo contemporâneo levando em consideração os aspectos estéticos e técnicos da música. O texto faz parte do importante livro Matrizes da Linguagem e Pensamento: Sonora, Visual, Verbal, Santaella aprofunda estudos desenvolvidos por Charles Peirce. Após apresentar de forma densa a teoria das três principais matrizes da linguagem e pensamento de Peirce (sonora, visual e verbal) nos dois primeiros capítulos, Santaella aborda (podemos dizer que até de forma poética) a expansão da música e os limites para tratá-la apenas a partir da classificação em ritmo, melodia e harmonia. A autora trabalha em torno de “nove modos de ouvir”. Estas nove subdivisões são feitas a partir de três grandes níveis retirados do livro “O que é música”, de J.J. Moraes. São eles: (1) ouvir emotivamente, (2) ouvir com o corpo e (3) ouvir intelectualmente. Apesar de Santaella explicar que estes níveis se entrelaçam e são inseparáveis, a autora chama atenção para o fato do mundo contemporâneo e das novas tecnologias nos proporcionarem novas formas de ouvir, ou pelo menos, formas mais detalhadas de especificar estas experiências.

                               Ouvir emotivamente corresponde ao primeiro efeito que a música está apta a produzir no ouvinte. Ouvir com o corpo entra em correspondência com o interpretante energético, visto que este diz respeito a um certo tipo de ação que é executada no ato de recepção de um signo. Ouvir intelectualmente significa incorporar princípios lógicos que guiam a recepção da música” (SANTAELLA, 2005, p. 82)

         A partir destes conceitos, Santaella subdivide os grandes níveis de Moraes em nove modalidades, sendo as primeiras do campo emotivo: (1.1) Qualidade de Sentir, em que a situação do ouvinte é um “instante fugido” ou “um sentimento em si mesmo”; (1.2) Comoção, uma experiência que “quer dizer, aquilo que nos move, que nos movimenta interiormente”; (1.3) Emoção, quando nomeamos o sentimento, quando rotulamos as músicas em alegres, tristes, melancólicas e outros.  A partir do segundo nível, o de ouvir com o corpo, Santaella especifica que há: (2.1) ouvir de corpo tomado, no qual  “o ritmo penetra no corpo”, pois “o próprio corpo parece ser a fonte geradora do ritmo”; (2.2) quando o ouvir é uma contiguidade entre a música e o corpo, sendo a música algo que vem e “o corpo, sem saber, já começa a se agitar”; (2.3) a dança coreografada, na qual a coreografia funciona como tradução plástica do ritmo. Já no terceiro nível, o intelectual, Santaella encontra outros três desdobramentos: (3.1) Hipotético, quando o ouvinte, mesmo treinado, está “diante de um ato de recepção em que seu intelecto não pode senão formular hipóteses”; (3.2) Relacional, em que o ouvinte é capaz de perceber milimetricamente os jogos das sobreposições e, por fim, a (3.3) escuta especializada, quando o ouvinte conhece todos os sistemas de referência da música (2005).
         Lúcia Santaella entende que a classificação da escuta se tornou mais frequente na medida em que a percepção sonora se transformou nas últimas décadas em um elemento fundamental para a própria composição. Tratar da expansão da música como experiência estética é traduzir este período de transição para o mundo contemporâneo. Após a II Guerra, as fronteiras entre os países se diluíram e o avanço tecnológico proporcionou teorias mais complexas.
         A partir de reflexões sobre os estudos de Pierre Schaeffer, Santaella afirma que em meados deste século a composição musical passou a considerar qualquer tipo de som, inclusive ruídos.  Este é um advento próprio do mundo contemporâneo. Por isso, existem ainda outras classificações que podem ser utilizadas, além das nove modalidades anteriormente resumidas. “Palavras como ritmo, melodia e harmonia – colunas mestras da música que se engendrava a partir da nota como unidade – começaram a desaparecer do vocabulário dos compositores”, em decorrência das rupturas da linguagem sonora a partir de meados do século XX (2005, p. 88).  Assim, “insatisfeitos com os timbres da orquestra clássica, os compositores a ela adicionaram novos instrumentos: percussão em profusão junto com instrumentos populares, antes considerados indignos para comparecerem em um concerto” (2005, p.90). Fenômeno que evoca uma espécie de crise interrupta, resultante de novas máquinas que registram, amplificam, manipulam sintetizam, analisam e controlam o som. É a partir deste desenvolvimento tecnológico que se permite a “criação de matérias e trajetórias sonoras inauditas”.
         Santaella explora um novo mundo de percepções ao sinalizar que, a partir de Boulez, existem sons a serem ouvidos e possibilidades a serem exploradas (2005, p.91). A música eletrônica, por exemplo, proliferou o material sonoro, adicionando novas transformações do som (BAYLE apud SANTAELLA).
Ao retomar Bayle (1993) e Wishart (1996), Santaella apresenta uma “flexibilidade temporal” que, em um sentido amplo, trata da impossibilidade de se detectar as hierarquias estruturais da produção artística. Como exemplo, cita o “i-som”, um composto imagem-som, que considera “o conceito espacial da forma que se revela com todas as suas consequências” (2005, p.95). Por fim, interpreta a música contemporânea como uma transgressão, como uma forma de renunciar aos esquemas e sistemas formais, contrapor as inércias e estagnações. E é por estas razões que Santaella ao analisar este panorama multifacetado e pluridimensional optou por passar a chamar suas classificações de modalidades da sintaxe sonora e não mais estritamente de sintaxe musical. “Enfim, uma classificação capaz de abrigar não só a música das notas, mas também aquela dos grânulos, massas, nuvens e poeiras de sons” (2005, p.96).

IN MEMORIAN - Homenagem a Paulo Santos da Silva

"Para um amante da justiça, a morte é a coisa mais mal distribuída deste mundo. Não posso entender qual seja o critério com que a distribuição se dá. Mas, há um critério? A sorte joga os dados e ao resultado chamamos destino” - Bobbio.


Paulo Santos da Silva foi integrante do Grupo de Pesquisa Imbricamentos de Linguagens desde o ano de 2014. Defendeu a sua dissertação de Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade em 2015 – “Representações e memórias: jogos de poder nas lendas circulantes em Guaratuba recuperadas por vozes de mulheres”, na Linha de Pesquisa Patrimônio e Memória Social, da Univille - Joinville, SC. Pós-graduado em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC, graduado em Letras - português/latim pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (1992)Atuou como professor na Faculdade do Litoral Paranaense - ISEPE, no Colégio Monteiro Lobato - em Guaratuba/PR, no SENAC - Caiobá, como professor substituto na Fafipar - Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá, no Colégio Nova Geração - Paranaguá, Curso Pré-Vestibular Evidente - Curitiba -, no Ensino Médio no Colégio Isepe de Guaratuba e no Ensino Fundamental, 4º Ciclo, na Sociedade Educacional Novo Éden, em Curitiba. 

                Foi contador de 'causos' e idealizador de pontes. 


Na travessia da vida não sou como ferry-boat, que atrasa, que perturba, que não evolui – só retrocede; na travessia da vida planto canções e ensinamentos, pérolas, flores e sentimentos, vejo e revejo o que fiz, para que quando a luz estiver se fechando, eu possa cantar que fui feliz.” Paulo Santos da Silva * 03.09.1964 + 31.07.2017
Fonte: https://www.correiodolitoral.com/21078/a-luta-continua


4º Ciclo de Conferencias sobre Estudios Latinoamericanos (IAPCS.UNVM)

UNIVERSIDAD NACIONAL DE VILLA MARIA - ARGENTINA

IDENTIDADES  URBANAS  E IDENTIDADES INTERCULTURALES:
LENDAS URBANAS RECUPERADAS POR VOZES DE MULHERES

Dra.Taiza Mara Rauen Moraes
Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE¹
Mestre Paulo Santos da Silva -UNIVILLE²


 As lendas coletadas em Guaratuba/PR, foram contadas por vozes de mulheres, a partir de pesquisa desenvolvida nos anos de 2014 e 2015, por Paulo Santos da Silva, reafirmando Paul Ricoeur[1] ao sinalizar que em cada versão, o lendário (re)inaugura “novas formas de narrativas, que ainda não sabemos dominar”, num metamorfismo contínuo fixando culturas e linguagens em fluxo. Portanto, novas formas de narrar as lendas transmitem memórias de grupos, de uma época e de uma cultura, revivendo pela oralidade no tempo presente histórias que recuperam tradições. Pensamos as lendas como uma coletânea dos rastros deixados pelos acontecimentos que afetam o curso da história dos grupos envolvidos, cuja memória permite o sentido da orientação na passagem do tempo, que vem em mão dupla, do passado para o futuro e também do futuro para o passado através do presente em que se vive.

Para ter acesso ao texto na íntegra, acesse:  Clique aqui!



LENDAS COMO REGISTROS IDENTIFICADORES DE PAISAGENS CULTURAIS

Paulo Santos da Silva
Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE¹

Taiza Mara Rauen Moraes
Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE²




Resumo

Falar sobre lendas, é falar sobre universos de memórias recriadas a cada (re)conto, que nascem de fatos reais acrescidos de informações ou sintetizados e são transformadas em  novas narrativas como registros difundidos oralmente e recuperados  mantendo vivas tradições coletivas e paisagens culturais. As lendas coletadas em Guaratuba/PR, contadas por vozes de mulheres, a partir de pesquisa desenvolvida nos anos de 2014 e 2015, reafirmam Paul Ricoeur (1995) ao sinalizar que em cada versão, o lendário (re)inaugura “novas formas de narrativas, que ainda não sabemos dominar”, num metamorfismo contínuo fixando culturas de linguagens em fluxo. Portanto, novas formas de narrar as lendas transmitem memórias de grupos, de uma época e cultura, revivendo pela oralidade no tempo presente histórias que recuperam tradições dos grupos envolvidos, cuja memória permite o sentido da orientação na passagem do tempo, que vem em mão dupla, do passado para o futuro e também do futuro para o passado através do presente em que se vive delineando paisagens culturais. Assim, no ato de narrar lendas, perpassam jogos ideológicos que podem apontar para o entendimento de como essas narrativas são recontadas no tempo presente, de como elas permitem novos e múltiplos olhares sobre as paisagens das quais originam e de como elas, as narrativas, podem ser vistas como memória de um grupo que se considera autor de sua própria história e faz da realidade vivida suas representações.

Palavras- chave: Atores sociais; Memórias; Lendas: Paisagem cultural.

Para ter acesso ao texto na íntegra, acesse: Texto III ENIPAC

POSTAGEM EM DESTAQUE

Anais do 28º.Encontro do PROLER Univille e 13º Seminário de Pesquisa em Linguagens, Leitura e Cultura - 2022

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