Resenha da obra "Sem pressa", de Katherine Funke, por Taiza Mara Rauen Morae

SEM PRESSA
Autora do Livro:
FUNKE, KatherineIlustrações Meryl Dith. Joinville/SC: Micronotas, 2018.
Edição / Prêmio Edital Elisabete Anderle, 2017

Autora da Resenha:
Taiza Mara Rauen Moraes - Mestrado Patrimônio Cultural e Sociedade/ Letras/ PROLER UNIVILLE

Palavras-chave
Narrativas híbridas; percepções temporais; atmosferas sensíveis.
Desenvolvimento do Texto:
Foto: Divulgação
Sem pressa, livro composto por sete narrativas/entrevistas escritas entre 2010 e 2011, por Katherine Funke, jornalista que na época tinha sete anos de experiência profissional e se permitiu romper com a pressão do “aqui e do agora” do fazer jornalístico, para se dedicar à escrita literária experiência propiciada por uma Bolsa Funarte de Criação Literária. As narrativas registram vivências com um tempo dedicado à escrita e ecoam experiências dos entrevistados, bem como projeções de sonhos alimentadores da existência e que permitem ao leitor fluir temporalmente, experienciar aconchegos e abandonos. A cada narrativa o leitor é introduzido por uma imagem e por uma epígrafe poética que o provoca a refletir sobre o tempo como um fenômeno imanente e transcendente. A primeira, intitulada Ei, você viu aí um pedaço com uma cabeça?,introduzida por versos de T.S.Eliot circula reflexões sobre o poder do tempo ao narrar a persistência de Rita Andrade, Ritta Mota (Tetê), Alberto e de Yara Chamusca, atuantes no Museu Náutico do Forte de Santo Antônio da Barra, para ordenar e catalogar 6.495 fragmentos de faiança portuguesa resgatados em 1970, nos destroços do navio de guerra Galeão Sacramento, naufragado em 1668, em Salvador/Bahia. Expõe a obstinação da equipe na busca da compreensão das almas das cerâmicas, a luta contra o tempo na montagem de quebra-cabeças e que segundo Tetê requerem sensibilidade e paciência, pois “As estrias de barro, pequenas reentrâncias lineares que podem ser vistas nas bordas laterais internas de um fragmento quebrado, são a memória da massa, e sendo assim, só se casam com massas de estrias iguais.” (p.17) A segunda narrativa, Stella vai a um retiro no mosteiro, é introduzida pelas palavras de Virgínia Woolf que clama por  “abolir com um sopro o tique-taque dos relógios”. Stella, neta de Dorival Caymmi e filha de Nanna se auto avalia como uma mulher exausta, pois conforme seu depoimento “Em doze anos, eu devo ter escrito mil e duzentas a mil e quatrocentas páginas editadas. ”(26) e informa que a alternativa encontrada para superar a exaustão é isolar-se por quatro dias em um mosteiro para afastar-se das cobranças do tempo. Aqui não tem Coca-Cola, terceira narrativa é desencadeada a partir das frases de Fellini- Não há início nem fim, apenas a infinita paixão pela vida. ” e é focada nas experiências e contradições de Patrícia Zukas Dias, fotógrafa, economista e proprietária de um restaurante/café  de slow food, “Ciranda Café”, em Salvador/Bahia. A narrativa é costurada pelas palavras de Baudelaire, que ao clamar pela liberdade diz: “A cada minuto nós somos esmagados pelo conceito e pela sensação do Tempo. E há apenas duas maneiras de se escapar desse pesadelo: o prazer e o trabalho. O prazer nos consome. O trabalho nos fortifica. Faça sua escolha. ” (p.43 in: Flores do Mal, poema “Higiene”) Já, em Para decupar o absurdo, as experiências com tempo são vividas pelo fotógrafo Christian Cravo que registrou imagens dos duzentos e cinqüenta mil cadáveres, vítimas do terremoto no Haiti, em 2010. Após ter vivido esse episódio decide fotografar a natureza africana, a vida em si. A quarta narrativa, Desculpe, não deu para esperar pelo futuro, introduzida pelas palavras de Manoel de Barros, “O tempo só anda de ida”, é desenvolvida de modo cronológico, registra o momento do impacto do episódio do World Trade Center (2001), vivido pelo investidor americano Bernard Attal, que poderia ter morrido se o táxi em que estava cruzasse o quarteirão dos edifícios, dez minutos depois do choque dos aviões. Após, essa vivência, decidiu estudar cinema, na Universidade de New York e lançou seu primeiro filme/curta metragem, “29 Polegadas aos quarenta anos de idade e muda-se para Bahia/Brasil. Em 2010 faz seu primeiro longa metragem “A coleção invisível”, baseado nos contos de Stefan Zweig, escritor judeu, nascido em Viena, que encontrou o Brasil na rota de fuga ante ao holocausto nazista. Na sexta narrativa Pan-pandeiro perfeito, a epígrafe é de Maureen Bartz Szymczak – A chuva me encolhe no tempo. Sou gota suspensa- a atmosfera é sonora, e o entrevistada a Tamima dedicada à arte de produzir pandeiros artesanais e nesse ofício de luthier busca mimar “seus pandeiros até quase voarem, de tão levinhos”(p.82), ajustados com cuidado e lentidão na tentativa de atingir a perfeição do som. A sétima e última narrativa- Amanhã já é maior e mais belo, Jorge – é desencadeada a partir das palavras de Alberto Caeiro da Silva “Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,/Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra. ” e se diferencia das anteriores na dosagem da invenção, resultante de uma experiência de  emersão da produção de chocolates orgânicos de Amma, na Bahia  análogas às sensações mágicas  transmitidas pelo filme  A fantástica fábrica de chocolates (2005) de Tim Burton. 

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