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Foto: Divulgação |
Sem
pressa, livro composto por sete narrativas/entrevistas escritas entre 2010 e
2011, por Katherine Funke, jornalista que na época tinha sete anos de experiência
profissional e se permitiu romper com a pressão do “aqui e do agora” do fazer
jornalístico, para se dedicar à escrita literária experiência propiciada por
uma Bolsa Funarte de Criação Literária. As narrativas registram vivências com
um tempo dedicado à escrita e ecoam experiências dos entrevistados, bem como
projeções de sonhos alimentadores da existência e que permitem ao leitor fluir
temporalmente, experienciar aconchegos e abandonos. A cada narrativa o leitor
é introduzido por uma imagem e por uma epígrafe poética que o provoca a
refletir sobre o tempo como um fenômeno imanente e transcendente. A primeira,
intitulada Ei, você viu aí um pedaço
com uma cabeça?,introduzida por versos de T.S.Eliot circula reflexões
sobre o poder do tempo ao narrar a persistência de Rita Andrade, Ritta Mota
(Tetê), Alberto e de Yara Chamusca, atuantes no Museu Náutico do Forte de
Santo Antônio da Barra, para ordenar e catalogar 6.495 fragmentos de faiança
portuguesa resgatados em 1970, nos destroços do navio de guerra Galeão
Sacramento, naufragado em 1668, em Salvador/Bahia. Expõe a obstinação da
equipe na busca da compreensão das almas das cerâmicas, a luta contra o tempo
na montagem de quebra-cabeças e que segundo Tetê requerem sensibilidade e
paciência, pois “As estrias de barro, pequenas
reentrâncias lineares que podem ser vistas nas bordas laterais internas de um
fragmento quebrado, são a memória da massa, e sendo assim, só se casam com
massas de estrias iguais.” (p.17) A segunda narrativa, Stella vai a um retiro no mosteiro, é
introduzida pelas palavras de Virgínia Woolf que clama por “abolir com um sopro o tique-taque dos
relógios”. Stella, neta de Dorival Caymmi e filha de Nanna se auto avalia
como uma mulher exausta, pois conforme seu depoimento “Em doze anos, eu devo ter escrito mil e duzentas a mil e quatrocentas
páginas editadas. ”(26) e informa que a alternativa encontrada para
superar a exaustão é isolar-se por quatro dias em um mosteiro para afastar-se
das cobranças do tempo. Aqui não tem
Coca-Cola, terceira narrativa é desencadeada a partir das frases de
Fellini- Não há início nem fim, apenas
a infinita paixão pela vida. ” e é focada nas experiências e contradições
de Patrícia Zukas Dias, fotógrafa, economista e proprietária de um
restaurante/café de slow food, “Ciranda Café”, em
Salvador/Bahia. A narrativa é costurada pelas palavras de Baudelaire, que ao
clamar pela liberdade diz: “A cada
minuto nós somos esmagados pelo conceito e pela sensação do Tempo. E há
apenas duas maneiras de se escapar desse pesadelo: o prazer e o trabalho. O
prazer nos consome. O trabalho nos fortifica. Faça sua escolha. ” (p.43
in: Flores do Mal, poema “Higiene”)
Já, em Para decupar o absurdo, as
experiências com tempo são vividas pelo fotógrafo Christian Cravo que
registrou imagens dos duzentos e cinqüenta mil cadáveres, vítimas do
terremoto no Haiti, em 2010. Após ter vivido esse episódio decide fotografar
a natureza africana, a vida em si. A quarta narrativa, Desculpe, não deu para esperar pelo futuro, introduzida pelas
palavras de Manoel de Barros, “O tempo
só anda de ida”, é desenvolvida de modo cronológico, registra o momento
do impacto do episódio do World Trade
Center (2001), vivido pelo investidor americano Bernard Attal, que
poderia ter morrido se o táxi em que estava cruzasse o quarteirão dos
edifícios, dez minutos depois do choque dos aviões. Após, essa vivência,
decidiu estudar cinema, na Universidade de New York e lançou seu primeiro
filme/curta metragem, “29 Polegadas” aos quarenta anos de idade e muda-se
para Bahia/Brasil. Em 2010 faz seu primeiro longa metragem “A coleção invisível”, baseado nos
contos de Stefan Zweig, escritor judeu, nascido em Viena, que encontrou o
Brasil na rota de fuga ante ao holocausto nazista. Na sexta narrativa Pan-pandeiro perfeito, a epígrafe é de
Maureen Bartz Szymczak – A chuva me
encolhe no tempo. Sou gota suspensa- a atmosfera é sonora, e o entrevistada a Tamima dedicada à arte de produzir pandeiros
artesanais e nesse ofício de luthier busca mimar “seus pandeiros até quase
voarem, de tão levinhos”(p.82), ajustados com cuidado e lentidão na tentativa
de atingir a perfeição do som. A sétima e última narrativa- Amanhã já é maior e mais belo, Jorge –
é desencadeada a partir das palavras de Alberto Caeiro da Silva “Ter pressa é crer que a gente passa
adiante das pernas,/Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra. ” e
se diferencia das anteriores na dosagem da invenção, resultante de uma
experiência de emersão da produção de
chocolates orgânicos de Amma, na Bahia
análogas às sensações mágicas
transmitidas pelo filme A fantástica fábrica de chocolates (2005)
de Tim Burton.
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