Resenha
Crítica
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MORAES
RAUEN, Taiza Mara
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Referência do Texto:
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BARTHES,
Roland.O mito, hoje. In: Mitologias . Tradução Rita Buongermino e Pedro de Souza.
8 ed. Rio de Janeiro,Bertrand Brasil S. A., 1989.p.131-178.
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Palavras-chaves (3):
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Mito;
Literatura; Semiologia
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Desenvolvimento
do Texto:
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1-Introdução:
Roland Barthes (França, 1915 - 1980) semiólogo e
teórico da literatura, desenvolveu em Mitologias uma crítica ideológica e semiológica da
linguagem da cultura de massa, operando reflexivamente sobre a naturalidade com
que a imprensa, o senso comum e arte tratam a realidade mascarando-a
ideologicamente. O mito é abordado como linguagem, pois ao enfocar o mito
hoje, procura abordá-lo numa relação triádica entre a natureza , a objetividade
do cientista e a subjetividade do escritor
2 - Resumo:
O
livro Mitologias dividido em duas partes, a primeira
“Mitologias” é constituída por
pequenos ensaios em que
Barthes , se posiciona com mitólogo buscando tratar da significação de mitos
contemporâneos ao explorar cenas da vida cotidiana francesa entre os anos de 1954 a 1956. Já, a segunda
parte “O mito , hoje” é subdividido
em: O mito é uma fala; O mito como
sistema semiológico; A forma e o conceito; A significação; Leitura e
decifração do mito; A burguesia como sociedade anônima; O mito é uma fala
despolitizada; O mito na esquerda; O mito na direita; Necessidade e limites
da mitologia – ensaios teóricos/reflexivos, nos quais são questionadas as
relações entre natureza/história.
Aspectos
abordados sobre o mito:
·
Conceituação de mito;
·
Relação mito/semiologia;
·
Mito no sistema semiológico;
·
Significação;
·
Relação mito/literatura.
O mito é uma fala –
p131- 133
MITO
= Sistema de comunicação historicamente determinado;
= Uma fala que não se define pelo
objeto de sua mensagem, mas pela maneira
como é
proferido;
=
Tem limites formais, mas não
substanciais, portanto tudo pode mito porque
o universo é infinitamente
sugestivo.
O mito como sistema
semiológico p. 133-139
p.133
“A semiologia é uma ciências das formas, visto que estuda as significações
independentemente de seu conteúdo.”
p.
134-135 -Barthes, enfatiza que a fala mítica é formada por uma matéria já
trabalhada, pois visa uma comunicação apropriada e situa o mito numa relação de dependência a
uma ciência geral extensiva à Linguística – SEMIOLOGIA = ciência das formas,
estuda as significações independente de seu conteúdo.
A
semiólogo explora o fato e defini-o como
um valor de equivalência, portanto a semiologia propõe uma
relação entre dois termos ,
significante e significado, objetos de ordem diferente e constitui uma
equivalência. Na linguagem comum, o significante exprime o significado, já no
sistema semiológico há três termos
diferentes, o que se apreende não é um termo após o outro, mas a correlação
os une: o significado, o significante
e o signo, total associativo dos dois primeiros termos. O exemplo tomado é um
ramo de rosas que é (re)significado em paixão, assim, nessa relação existe um
significante, um significado, as rosas e a paixão, rosas “passionalizadas”,
ou seja, analiticamente as rosas
carregadas de paixão podem ser decompostas em rosas e em paixão e tinham uma existência
independente antes de se transformarem em um signo da paixão. Assim, o
significante é vazio e o signo é pleno, é um sentido.
p.
135-136 - Diálogo –
Barthes/Saussure/Freud/ Sartre:
Saussure
– estudou um sistema semiológico específico, a língua, e nesse sistema, significado = conceito;
significante = imagem acústica e o signo= relação entre o conceito e a
imagem.
Freud- estudou
o psiquismo= espessura de equivalências, ou seja, um termo é
constituído pelo sentido manifesto do comportamento, um outro pelo sentido
latente ou próprio ( substrato de um sonho), terceiro termo é a correlação
dos dois primeiros: “é o próprio sonho, na sua totalidade, o ato falho ou a
neurose, concebidos como compromissos, economias realizadas graças à junção
de uma forma ( primeiro termo) e de uma função intencional (segundo termo).”
Sonho
,não é o conteúdo manifesto nem o conteúdo latente, mas a ligação dos dois
termos.
Sartre
– propôs uma crítica, na qual, o
significado= crise original do sujeito ( separação da mãe para Baudelaire );
Literatura como discurso, forma o significante; e a crise com o discurso
define a obra, gerando uma significação.
Daí:
na semiologia o esquema tridimensional da forma é constante, mas não funciona
sempre do mesmo modo; seu campo é a linguagem
, portanto, sujeita a operação da leitura ou do deciframento.
p.
136-137 - MITO – esquema
tridimensional – significante/significado e signo – sistema semiológico
segundo
signo=
totalidade associativa de um conceito e de uma imagem num primeiro sistema
(língua), transforma-se em significante no segundo sistema.
p.136
“[...] as matérias primas da fala mítica (língua propriamente dita,
fotografia, pintura, cartaz, rito, objeto, etc), por mais diferentes que
sejam inicialmente, desde o momento em que são captadas pelo mito, reduzem-se
a uma pura função significante: o mito vê nelas apenas uma mesma matéria-
prima; a sua unidade provém do fato de serem todas reduzidas ao simples
estatuto da linguagem. O termo final (totalidade dos signos) transforma-se em
1º termo ou termo parcial do sistema aumentado que ele constrói.” O mito
incorpora dois sistemas semiológicos, um deslocado em relação ao outro. No
sistema linguístico, a língua, linguagem-objeto,
para Barthes, é a linguagem que o mito utiliza para construir seu sistema; o
mito, meta-linguagem, porque é uma
segunda língua que fala da primeira. Em decorrência, Barthes sinaliza que o
semiólogo deve tratar da mesma maneira a escrita
e a imagem: deve considerar que
ambas são signos e chegam no limiar do mito por possuírem a mesma função
significante = linguagem objeto.
EXEMPLO
– p.138 - capa de um número da revista Paris
– Match : um negro vestindo um
uniforme do exército francês faz uma saudação militar, com olhos erguidos e fixos na bandeira tricolor –
sentido da imagem. A imagem significa que a França é um forte Império e que
seus filhos, sem distinção de cor, a respeitam e adotam sua bandeira. A imagem é uma
resposta aos críticos ao colonialismo. Exemplo de um sistema semiológico
ampliado: há um significante formado por um sistema prévio = um soldado negro
saúda a bandeira francesa; há um significado = misto de “francidade”/
“militaridade” ; há uma presença do significado através do
significante.
TERMINOLOGIA
- significante no mito= termo final do
sistema linguístico ou como termo final do sistema mítico.
No
plano da língua – como termo final do 1º sistema – significante = sentido –
um negro faz a saudação militar à bandeira tricolor francesa; no plano do
mito= forma.
O
significado é chamado – conceito – nos dois sistemas. O 3º termo = correlação
dos dois primeiros: no sistema da língua= signo e no mito=significação,
porque “o mito tem efetivamente uma dupla função: designa e notifica, faz
compreender e impõe.”
A forma e o conceito p.139 -142
p.
139-140 - Significante no mito= apresenta simultaneamente sentido e forma, pleno de um lado e vazio de outro. A forma não suprime o
sentido, empobrece-o, afasta-o, conservando à sua disposição. O sentido tem
sua morte suspensa, conserva-se vivo no mito. A forma do mito não é símbolo (
retomando o exemplo – o negro da capa da Paris
Match, não é cúmplice do conceito de imperialidade francesa e se
constitui como uma presença emprestada,
através do conceito, uma história nova é implantada no mito. Daí a
característica fundamental do conceito mítico, que é o do ser apropriado. O
conceito propicia que uma história nova seja incorporada no mito.
p.141
– O conceito corresponde a uma função
precisa e define-se como uma tendência, pois, um significado pode ter
vários significantes, como exemplo, é
possível encontrar muitas imagens que signifiquem a imperialidade francesa. O
conceito assim, é quantitativamente mais pobre do que o significante, se
limita com frequência a re-apresentar-se.
p.142
– “O conceito é um elemento constituinte do mito: se pretendo decifrar mitos,
e
necessário que possa nomear conceitos.”
A significação
p.142-148
p.143
A significação é própria do mito, pois o “mito não esconde nada” e tem a
função de deformar. A deformação é possível porque a forma do mito já é
constituída por um sentido linguístico. Num sistema simples como a língua, o
significado não pode deformar nada, porque o significante é vazio,
arbitrário, não lhe oferece nenhuma resistência.
p.144
No mito o significante apresenta duas faces: uma plena, que é o sentido e uma
vazia, que é a forma. Exemplo – (negro- soldado
francês-saudando-a-bandeira-tricolor) – o conceito deforma a face plena, o sentido – o negro é
privado de sua história e transformado em gesto, ocorre uma deformação, o
negro permanece, o conceito retira-lhe a memória, mas necessita dele.
p.144-145
O mito é um valor, não tem verdade com sanção: nada o impede de ser um perpétuo álibi (termo espacial –
há um lugar pleno e um lugar vazio, ligados por uma relação de identidade
negativa: basta que o seu significante tenha duas faces para dispor sempre de
um “outro lado”: o sentido existe sempre que apresentar a forma; a forma
existe sempre para distanciar o sentido.
O
caráter do mito é imperativo e
interpelatório, pois surge de um conceito histórico, vem diretamente da
contingência, obriga o acolhimento de sua ambiguidade expansiva, motivação (elemento da
significação).
p.147 A significação mítica não é completamente
arbitrária, é sempre em parte motivada, contém fatalmente uma analogia : para que a imperialidade
francesa se apodere do negro que faz a saudação militar do negro e a saudação
militar do soldado francês. A motivação é necessária à própria duplicidade do
mito; o mito joga com a analogia do sentido e da forma: não existe mito sem
forma motivada.
p.148
O mito é um sistema ideográfico puro onde as formas são ainda motivadas pelos conceitos que
representam, sem no entanto cobrirem a totalidade representativa desse
conceito.
Leitura e
decifração do mito p.149-152
p.149
Barthes propõe três tipos diferentes de leitura semiológica do mito:
1-
se focalizar o significante vazio – o conceito preenche a forma do mito sem
ambiguidade, a significação volta a ser literal – o negro que faz a saudação militar é um
exemplo da imperialidade francesa, é o seu símbolo- leitura cínica
que destrói o mito .
2-
se focalizar o significante pleno, distinguindo plenamente o sentido da forma
e, portanto, a deformação que um provoca no outro, é destruída a significação
do mito – o negro que faz a saudação militar
transforma-se no álibi da
imperialidade francesa – focalização
do mitólogo que decifra o mito e compreende uma deformação- leitura
desistificadora.
3-se
focalizar o significante do mito, enquanto totalidade inextrincável de
sentido e forma, a significação é ambígua
e ocorre uma leitura segundo a dinâmica própria do mito. O negro que
faz a saudação militar passa a ser a própria presença da imperialidade
francesa. A focalização é dinâmica e o
leitor vive o mito como uma história verdadeira e irreal.
p.151
O mito- não é uma mentira nem uma
confissão. É uma inflexão. É simultaneamente imperfectível e indiscutível: o
tempo e o saber nada lhe podem acrescentar e subtrair.
p.152
O mito é lido inocentemente quando não é lido como um sistema semiológico,
mas como um sistema indutivo, ou seja, quando há uma equivalência lê- se uma
processo causal, no qual o significante e o significado mantêm relações
naturais. Todo sistema semiológico é um sistema de valores.
Mito como linguagem
roubada p. 152-158
p.152 A função específica do mito é a de
transformar um sentido em forma.
A
língua oferece fraca resistência ao mito, pois ele pode desenvolver o seu
esquema segundo, a partir de qualquer sentido, não importa qual, ou ainda a
partir da própria privação de sentido.
p.153
– O mito nunca está no grau zero da língua.
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Resenha do Capítulo: O Mito In: Mitologias - Roland Barthes
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