RESENHA CRÍTICA
|
|
Autores
da Resenha:
|
Evelise Moraes Ribas
|
Referência
do texto:
|
BARTHES, Roland. A
Divisão das Linguagens. In: O Rumor da Língua, Parte II. São Paulo:
Martins Fontes, 2004.
|
Palavras-chave:
|
linguagens,
socioletos, idioletos, encrático, acrático, escritura, sociolinguística,
literatura.
|
DESENVOLVIMENTO DO TEXTO
|
|
Roland Barthes, nasceu em 12 de
novembro de 1915, em Paris. Escritor, sociólogo, filósofo, crítico literário,
semiólogo e um dos teóricos da escola estruturalista. Formado em Letras
Clássicas, Gramática e Filosofia, A sua obra, caracterizou-se inicialmente pela reflexão sobre a condição
histórica da linguagem literária. Em diversos livros discute a pluralidade significativa de um texto
literário e a sobrevalorização do texto em vez do signo.
O
Rumor da Língua é
uma coletânea de ensaios que tratam da linguagem e da literatura, publicados
esparsamente entre 1964 e 1980 por Barthes e que foram organizados pelo
editor François Wahl.
O
ensaio ‘A Divisão das Linguagens’ trata de linguagens e de estilo. Barthes aborda a linguagem como manifestação
cultural e suas múltiplas possibilidades, diretamente ligada aos jogos de
poder e à formação das identidades e representações, contrapondo as
linguagens da sociedade e as linguagens do indivíduo. A partir disso, avalia como a ciência estuda e descreve as linguagens sociais, considerando campos como a literatura, a sociologia e a sociolinguística nesse processo de percepção da divisão das linguagens. Foi a literatura que pressentiu a divisão das linguagens (mesmo permanecendo psicológica), mais do que a sociologia (não é de espantar: a literatura contém
todos os saberes; é verdade que num estado não-científico: é uma Mathésis)1.
Porém,
ressalta que a literatura apresenta essa divisão ao imitar linguagens de
grupo, especialmente nos romances, a partir do realismo, que buscam fixar as realidades sociais, e o
fazem através da reprodução de socioletos, ou linguagens de grupos.
Suas análises no campo da sociolinguística evidenciam uma divisão social das linguagens, especialmente vinculadas à divisão do trabalho. Nesse ponto, Barthes ressalta que a linguística vai além, ao considerar não somente o nível da língua, mas as diferenças de discursos, que promovem a incomunicação, atribuída
não à ordem informacional, mas sim à ordem interlocutória, causando embates, disputas, jogos de poder. Opera uma crítica aos estudos da sociolinguística na divisão das linguagens:
(...) a divisão das linguagens não é pensada como um fato total, pondo em
causa suas próprias raízes do regime econômico, da cultura, da civilização, até mesmo da
história, mas apenas como atributo empírico (de modo algum simbólico) de uma disposição meio sociológica, meio psicológica: o desejo de promoção – visão no mínimo estreita, que não responde à nossa expectativa.p.123
Os resultados do campo da linguística
também são questionados, já que raramente a linguística estabeleceu relação entre linguagens e grupos sociais, porém a associação com a história rendeu trabalhos
encorpados e significativos, como os estudos sobre a linguagem da Revolução Francesa, desenvolvidos por Ferdinand Brunot.
Para
o autor, não é possível uma descrição e avaliação científica das linguagens sociais sem uma avaliação do movimento político fundador dessa
linguagem e do contexto de jogo político em que esteja inserida, que o autor chama de discursos no poder (encráticos), ou discursos fora do poder (acráticos).
Entendendo
o discurso encrático (no
poder) como um discurso difuso e dominante, disseminado, que se impõe pela opressão, e o discurso acrático, um submisso a códigos, ideológicos e vinculados ao
não-poder, essa relação torna-se dinâmica, e Barthes cita o exemplo da linguagem política em período revolucionário da Revolução Francesa, enfatizando que a linguagem revolucionária provém da linguagem acrática,
mas quando se consolida e torna-se dominante, passa a ser encrática.
Ao
final, o autor provoca a reflexão de que a questão da divisão das linguagens está intrinsicamente ligada a um tema, que até então está mais reservado aos linguistas: a escritura, e sua importância para a produção de uma
‘linguagem indivisa’, justamente por estar essencialmente à pratica da
linguagem:
Sabemos que a linguagem não pode
reduzir-se à comunicação simples, é todo sujeito humano que se engaja na palavra e se constitui
através dela. Nas tentativas progressistas da modernidade, a
escritura ocupa um lugar eminente, não em função da sua clientela (muito reduzida), mas em função da
sua prática: é porque ataca as relações do sujeito (sempre social: haverá outro?) e da linguagem, a distribuição ultrapassada do campo simbólico e do processo do
signo, que a escritura aparece como uma pratica de contradivisão das linguagens: imagem sem
dúvida utópica, em todo caso mítica, já que vai em busca do velho sonho da língua inocente, da língua adâmica dos primeiros românticos. Mas não procede a história, segundo a bela metáfora de Vico, em espiral? Não devemos retornar
(o que não significa repetir) as antigas imagens para dar-lhes conteúdos novos? p. 132
|
|
Observações:
|
Resenha crítica de "A divisão das linguagens", In: O rumor da língua, de Roland Barthes
RESENHA CRÍTICA DE "RIZOMA" IN: MIL PLATÔS, DE DELEUZE E GUARTARI; POR AMANDA GASSENFERTH
RESENHA CRÍTICA
|
|
Amanda Gassenferth, mestranda em Patrimônio Cultural e Sociedade pela
UNIVILLE
|
|
Referência do Texto:
|
DELEUZE, Gilles;
GUATTARI, Félix. Rizoma. In: Mil
Platôs vol. 1. São Paulo: Editora 34. 2011.
|
Palavras-chave (3):
|
RIZOMA, FILOSOFIA, CARTOGRAFIA
|
Desenvolvimento do Texto:
|
|
Gilles Deleuze e Félix Guattari
trabalharam juntos no conjunto de
livros que compõem Mil Platôs. Nos
cinco volumes questionam a filosofia e apresentam os conceitos como possibilidades
de compreender a realidade. Entretanto, nesta resenha o ponto principal a ser
exposto é o primeiro capítulo do primeiro volume, intitulado Rizoma.
O capítulo inicia com a imagem de
uma partitura, porém colocada de uma maneira que se destacam as
possibilidades e não a ordem arborescente. O texto, escrito a dois e remetem
aos autores que escreveram juntos e que se colocam sob um pseudônimo, daí
propõem a ideia da junção, do uno em vários, ou seja, “Não chegar ao ponto em
que não se diz mais EU, mas ao ponto em que já não tem qualquer importância
dizer ou não dizer EU. Não somo mais nós mesmos. Cada um reconhecerá os seus.
Fomos ajudados, aspirados, multiplicados.” (DELEUZE; GUATTARI, 2011 p. 17)
Seguindo o pensamento, os autores estabelecem
um diálogo, acionando as produções do sujeito(s) pois neste sentido entendem
que o livro é movimento, com diferentes velocidades e noções de tempo. Assim,
o livro é apresentado como um agenciamento, no sentido de ser um conjunto de
relações, porém este quando visto a partir de seu conteúdo, passa a ter uma
concepção de agenciamento maquínico. O agenciamento é múltiplo, não é
direcionado/estratificado. Um livro não deve ser observado isoladamente, mas
sim nas suas transformações e relações.
Os
autores retratam a escrita com a cartografia, propõem um livro-raiz,
arborescente, ordenado, onde a arte imita a vida e vice-versa. Este livro tem
uma raiz pivotante, direcionada. Logo, considera a multiplicidade, não seguem
uma lógica binária. Assim como a raiz fasciculada destrói uma parte da raiz
principal para fazer um enxerto há a possibilidade da multiplicidade, com a
presença/ausência da raiz principal. No livro de raiz-fasciculada não se
rompe com a noção do livro como dual, de um sujeito e objeto.
Após esta introdução são apresentados os
princípios identificadores do rizoma:
- Princípios de conexão e heterogeneidade: um rizoma pode e deve se
conectar com outro rizoma, não precisando de um ponto específico, mas de
qualquer ponto para conexão. Assim, se
observam as coisas a partir deste conectar, das cadeias semióticas
preexistente e das que se formam.
“Num rizoma, ao contrário, cada não remete necessariamente a um traço
linguístico: cadeias semióticas de todas as naturezas são conectadas de modos
de codificação muito diversos, cadeias biológicas, políticas, econômicas,
etc., colocando em jogo não somente regimes de signos diferentes, mas também
estatuto de estado das coisas” (DELEUZE; GUATTARI, 2011 p. 22).
- Principio de multiplicidade: a multiplicidade não deve ser uma
característica, mas sim um substantivo. A multiplicidade não tem sujeito ou
objeto, mas sim diretrizes que mudam e se transformam, a partir das
combinações da multiplicidade. Sendo assim, esta se recodifica, não se
deixando sobrecodificar. A multiplicidade é plana, recebendo conexões
(linhas) diversas. “As multiplicidades se definem pelo fora: pela linha
abstrata, linha de fuga ou de desterritorialização segundo a qual elas mudam
de natureza ao se conectarem às outras.” (DELEUZE; GUATTARI, 2011 p. 25)
- Princípio de ruptura assignificante: este princípio destaca a
importância de não realizar cortes/rupturas significantes que separam ou
cruzam a estrutura, afinal, “Todo rizoma compreende linhas de segmentariedade
segundo as quais ele é estratificado, territorializado, organizado,
significado, atribuído, etc.; mas compreende também linhas de
desterritorialização pelas quais ele foge sem parar.” (DELEUZE; GUATTARI,
2011 p.25), isso não significa que ele, o rizoma, não possa ser quebrado,
pois ele pode, mas ele se transforma a partir de outras linhas e conexões.
Assim como o rizoma pode se romper e formar linhas de fuga, pois as linhas
remetem umas às outras, havendo uma possibilidade de se encontrarem
novamente. Contudo, não possuindo as mesmas características, dimensões que
ressignificam o “significante”.
-Principio de
cartografia e decalcomania: o rizoma não é fixo ou estático, assim como não é
um modelo estrutural, afinal, o rizoma não é um decalque. Ou seja, ele não
pode ser reproduzido igualmente infinitamente. Estas características pertencem
a árvore, a raiz pivotante, não ao rizoma. O rizoma, de acordo com os
autores, é mapa, possui entradas múltiplas, diferentes, sendo uma performance
em si. O mapa permite sair e entrar tanto quanto necessário, que sejam feitas
novas conexões. Todavia, deve-se colocar o decalque sobre o mapa, mesmo que o
decalque não reproduza o mapa em toda sua complexidade, é uma tradução, onde
o movimento e fluxo do rizoma se estabiliza, entretanto, os autores salientam
que fazer isto é perigoso, afinal não é uma reprodução do mapa em si. Mas sim
uma reprodução que se crer reproduzir algo, quando este é outra coisa, ou
ainda, ele mesmo. “O que o decalque reproduz do mapa ou do rizoma são somente
os impasses, os bloqueios, os germes de pivô ou os pontos de estruturação.”
(DELEUZE; GUATTARI, 2011 p.32)
Os autores ainda
destacam que o pensamento arborescente é hierárquico, logo, pode-se entender
que neste sistema hierárquico existe certa dependência entre os
níveis/estratos. E que mesmo uma multiplicidade pode ser falsa, quando
utilizada como fachada para um sistema hierárquico. Porém de um sistema
hierárquico pode vir a surgir um rizoma, assim como um rizoma pode se tornar
um sistema hierárquico/arbóreo. Ainda mais se considerarmos que o
pensamento/sistema arbóreo, foi predominante no Ocidente em diversas áreas,
dentre elas, biologia, assim como filosofia. Para contrapor é recuperado o
pensamento oriental, momento em que é citado Henry Miller, que compara a China à
erva daninha, por levar uma vida sábia. “A erva existe exclusivamente entre
os grandes espaços não cultivados. Ela preenche os vazios. Ela cresce entre, e no meio das outras
coisas.” (DELEUZE, GUATTARI, 2011 p.40; apud MILLER, 1956 p.49).
Assim o rizoma não é
simplesmente um movimento, mas sim gerador de possibilidades, de transições e
de conexões, de ressignificação e de autonomia;
bem como gerador de um mapa que se entra por onde se necessita entrar, mas
permanece aberto.
|
|
Observações:
|
A obra permite discussões interdisciplinares entre áreas da
comunicação, semiologia, linguística, psicologia, filosofia.
|
Resenha crítica de "A fotografia entre a morte e a eternidade", de Lúcia Santaella e Winfried Nöth
Resenha crítica do capítulo A fotografia entre a morte e a eternidade, in "Imagem: cognição, semiótica, mídia" de Lucia Santaella e Winfried Nöth
|
|
Daniel Machado
|
|
Referência
do Texto:
|
Santaella, Lucia; Nöth, Winfried.
A fotografia entre a morte e a eternidade. In: Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras, 2008.
|
Palavras-chaves
(3):
|
Fotografia, imagem
|
Desenvolvimento do Texto:
|
|
O capítulo A fotografia entre a morte e a eternidade,
integra o livro Imagem: cognição,
semiótica, mídia, de Lucia Santaella e Winfried Nöth, no qual os autores
teorizam questões relacionadas aos signos visuais, partindo de Charles S.
Peirce, e buscando meios de fundamentar o exame analítico da imagem como
linguagem.
No capítulo em questão,
os autores tratam especificamente a fotografia, e iniciam observando as
múltiplas formas de abordar este meio de representação visual, o qual,
segundo Santaella e Nöth, pode ir desde “um ponto de vista puramente material
e técnico” até o ponto mais filosófico, tratando a fotografia “como forma de
representação e conhecimento do mundo”. Partindo desta amplitude, os autores
traçam um caminho analítico em diálogos com vozes teóricas, que perpassam os
aspectos do processo fotográfico, a fotografia como duplo e a fotografia
entre a morte e a eternidade.
As análises sobre os
aspectos do processo fotográfico iniciam com o fotógrafo como agente, uma
questão que segundo os autores é frequentemente investigada. Nesse capítulo,
a ênfase se dá à postura do fotógrafo ao fotografar, pautada nos estudos de
Flusser, Zunzunegui, Omar e Sontag.
Partindo para o gesto
fotográfico, Santaella e Nöth tratam da “magia” presente na gênese da fotografia,
tema de análises de inúmeros autores, dos quais Santaella e Nöth destacam os
pensamentos de Dubois, Omar, Sontag e Flusser e citam o texto de Julio
Cortázar, “Las babas del diablo”, como “uma esplêndida fenomenologia do gesto
de fotografar”. O texto de Cortázar traz todo o ato fotográfico, desde sua preconcepção
até a observação da fotografia impressa, tratando das angústias do fotógrafo durante
o processo.
Sobre o aparelho ou
dispositivo como meio, os autores trazem como principal referência os estudos
de Vilém Flusser, que aborda a fusão entre fotógrafo e câmera. Na sequência,
acerca da fotografia como ato revelado as reflexões de Roland Barthes são
recuperadas, principalmente os conceitos de studium e punctum, os
quais estão relacionados ao ato de observação da fotografia. Susan Sontag e
seus estudos sobre a onipresença da fotografia são recuperados no diálogo por
tratar frequentemente do ato revelado.
A fotografia e o
referente também entram na análise sobre os aspectos do processo fotográfico,
sendo aqui novamente destaque o pensamento que Barthes, seguido pelos pensamentos
de Dubois, Metz, Zunzunegui e Sontag, que caracterizam a fotografia como
“traço do real”, sendo o conceito de Peirce sobre o caráter icônico da
fotografia, base para os pensadores desenvolverem seus estudos sobre o
referente fotográfico.
Santaella e Nöth também
discutem a distribuição fotográfica, partindo da possibilidade infinita de
reprodução a partir de um negativo, fator que segundo os autores talvez seja
o salto mais revolucionário dentre as fases da fotografia, promovendo um
grande avanço em relação ao modo manual de produzir imagens. Neste ponto, o texto de Walter Benjamin, “A
obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica” é retomada pelos
autores, juntamente com Sontag que analisa o armazenamento das fotografias e
Flusser que se dedicou também ao estudo sobre a distribuição da fotografia.
A recepção da fotografia
encerra a análise sobre os aspectos do processo fotográfico feita pelos
autores, sendo este também o último ponto desse processo. Momento que o texto
de Barthes é relembrado por Santaella e Nöth que apontam para os conceitos de
studium e punctum, os quais não existiriam sem a recepção fotográfica e sem
o receptor. O estudo de Sontag sobre as influências que as fotografias
exercem no receptor também é apontado, seguido pelo pensamento de Flusser que
assim como Sontag discute a recepção fotográfica do ponto de vista mais
social. Benjamin e a questão da quebra da aura na recepção, causada pela
reprodutibilidade da fotografia é também suscitada juntamente com Sontag que
questiona o pensamento de Benjamin.
A segunda linha de
análise percorrida por Santaella e Nöth diz respeito às duplicidades da
fotografia, ou seja, aos fatores ambíguos que acompanham o processo
fotográfico. Os autores iniciam essa análise considerando a dualidade física/simbólica
da fotografia, a qual, ao mesmo tempo em que possui uma relação física com
seu referente no momento de sua gênese, passa a ser uma existência simbólica
do mesmo.
Na sequência, os autores
analisam o caráter único - considerando a geração de um único negativo na
concepção da fotografia - em contraponto com o infinito - considerando a
possibilidade da geração de múltiplos positivos a partir deste único negativo.
A fragmentação do espaço
e do tempo no momento da captura fotográfica tem como oposto a intensificação
deste exato momento/lugar, colocado pelos autores como “recorte
intensificador”. Este ponto da análise tem grande proximidade com o seguinte,
que traz a fotografia como uma “aderência tirânica do referente”, mas que, ao
mesmo tempo tem a possibilidade de transfigurá-lo total ou parcialmente.
Outra duplicidade
apresentada por Santaella e Nöth é a presença e ausência, considerando que,
ao mesmo tempo que a fotografia está ali presente, ela também representa algo
que está ausente, é o que Sontag coloca como “pseudopresença” ou “signo de
ausência”. Duplicidade que se aproxima da seguinte colocada pelos autores
como proximidade e separação e que em muito tem a ver com a última
duplicidade apresentada como fusão, atração com o real ao mesmo tempo em que
é corte, separação do real.
O terceiro item do
artigo apresenta uma análise sobre a fotografia como duplo, afirmando que, ecoando
as vozes em diálogo, “a força da fotografia está na duplicação das aparências
que ela permite, realizando, ou melhor, aprimorando o desejo humano ancestral
de reproduzir o mundo” (p. 130). Aqui os autores apresentam um breve
histórico das tentativas de reprodução do mundo realizadas pelo homem, e
abrem um subitem para explanar especificamente “a novidade da fotografia”,
onde as características distintas deste meio em relação aos outros meios de
reprodução imagética são apresentadas, assim como, também as similaridades,
principalmente em relação a característica de ser um duplo.
Para fechar esse item,
Santaella e Nöth discutem as duas principais linhas de reações causadas pela
invenção da fotografia: a euforia causada pela suposta perfeição com que a
fotografia representava seu referente, e a disforia “melancólica,
profundamente desconfiada e evidentemente crítica”, que normalmente toda nova
tecnologia suscita.
O último item deste
capítulo traz uma reflexão da fotografia “entre a morte a eternidade”, onde
os autores apontam similaridades entre a fotografia e a morte e traçam uma
análise sobre a fotografia de pessoas que já não estão mais vivas, confrontando
a fotografia com outros meios de reprodução da imagem em movimento, onde a
lembrança de pessoas mortas é trazida como se estivessem vivos,
diferentemente da fotografia onde os mortos são recordados como mortos.
Outros paralelos com a
morte, um tanto mais metafóricos, citados por outros autores são trazido por
Santaella e Nöth, como as comparações entre o aparelho fotográfico e a arma
de fogo, e a ideia de que o ato fotográfico leva o referente para outra
dimensão, que não é mais a do seu espaço e tempo presente, ideia desdobrada
em um subcapítulo sobre a promessa de eternidade que a fotografia traz
consigo e posteriormente tematizada com o texto La invención de Morel, onde o personagem principal se depara com
uma espécie de máquina do tempo que reproduz continuamente com riqueza de
detalhes todos os momentos dos habitantes de uma ilha que vivem “presos” à
este lapso de tempo.
Por fim, os autores apresentam
um pensamento do que seria “uma nova história da fotografia”, pautado nas
revoluções digitais recentes que ampliaram consideravelmente as perspectivas
do processo fotográfico. Um pensamento que trata principalmente das
possibilidades da pós-produção, mas que em geral não é muito aprofundado,
provavelmente pelo fato de que na data de publicação do livro, tais avanços
ainda eram muito recentes e pouco se sabia sobre os caminhos que essa nova
história da fotografia poderia tomar, caminhos que ainda hoje são incertos
apesar da popularização da fotografia e da disseminação de sistemas
fotográficos presentes principalmente em aparelhos de telefonia móvel.
O capítulo traça um
panorama sobre o processo fotográfico, aborda as teorias de duplicidades da fotografia
apresentadas de forma sucinta, o que instiga o leitor a buscar maiores
informações sobre cada teoria afim de consolidar um pensamento sobre elas. Na
proposta da fotografia como duplo, apesar de concordar com os autores sobre ser
a fotografia o aprimramento do desejo humano ancestral de reproduzir o
mundo, parece equivocada a afirmação de que com a fotografia o ser humano
consegue uma duplicidade “nua e crua, reduzida a si mesma, livre de todas as
distorções, para melhor ou para pior, impostas pela imaginação, manualidade e
manipulação do artista”, considerando que o simples fato de escolher o ângulo
de visão e a objetiva com a qual a fotografia seria feita já causaria uma
manipulação considerável na imagem, resultada da escolha do artista. É certo
que a fotografia foi considerada por anos como uma representação fidedigna do
referente, porém, no modo como esse conceito é apresentado no texto de
Santaella e Nöth, indica que essa ideia é ainda presente e não foi superada.
O desfecho do artigo, colocando
a fotografia entre a morte e a eternidade suscita reflexões sobre o poder da
fotografia na manutenção da memória, sendo um artefato que eterniza mas que
também pode aprisionar.
|
|
Observações:
|
|
Assinar:
Postagens (Atom)
POSTAGEM EM DESTAQUE
Anais do 28º.Encontro do PROLER Univille e 13º Seminário de Pesquisa em Linguagens, Leitura e Cultura - 2022
O 28º Encontro do Proler Univille e 13º Seminário de Pesquisa em Linguagens, Leitura e Cultura teve, no ano de 2022, o tema "As narrati...