Resenha Crítica
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Paulo Santos da Silva
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Referência do Texto:
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DESBLACHE, Lucile. As Vozes dos bichos Fabulares: animais em
contos e fábulas. In: Pensar/escrever o animal: ensaios de zoopoética
e biopolítica. Org. Maria Esther Maciel. Florianópolis:
Editora da UFSC, 2011. p. 295 – 314.
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Palavras-chaves (2):
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Fábulas - Modos de pensar o animal
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Desenvolvimento do Texto:
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OS ANIMAIS E OS NOVOS CONCEITOS DELES NA VISÃO
CONTEMPORÂNEA DE DESBLACHE
Organizado por Maria Esther Maciel, o livro Pensar/escrever o animal: ensaios de zoopoética e biopolítica
traz uma série de ensaios que estão distribuídos em quatro partes. Trata-se
de textos em que alguns teóricos da literatura e da cultura mundiais revelam
pesquisas e reflexões sobre a análise do Outro.
Entre estes, na última parte, está o ensaio de Lucile Desblache, com o título
de As vozes dos bichos fabulares:
animais em contos e fábulas (p. 295 a 314), no qual ela destaca que sua
pretensão é mostrar como as fábulas, por privilegiarem um conteúdo
figurativo, podem ampliar as percepções e construções da interação entre as
espécies.
Nesse texto, os animais são os objetos da palavra. A autora analisa
textos, de Coetzee, de Carter, entre outros, cuja ação e enredo se atêm a
animais. Desblache parte da tradição da fábula e sua inversão de sentido e
aplicação ideológica na literatura contemporânea de J.M. Coetzee, afirmando
que ele parte da fábula tradicional, mas se afasta dela ao usar aves não
antropomorfizadas como protagonista.
Eis para ela a contramão da tradição das fábulas, pois os pássaros são
tratados como aves, não tendo voz ou outras características humanas tão
comuns nas fábulas tradicionais. Ao
operar uma analogia ao texto de Coetzee, a autora retoma os personagens
criados por Beatrix Potter, produzidos a partir de clichês em que os animais
são reduzidos a miniaturas dos homens.
Em busca de cumprir sua análise, após confirmá-la com pensamentos
defendidos por teóricos como Deleuze e Guatarri, e atenta a essa nova
possibilidade de abordagem do animal que surge na literatura contemporânea, a
ensaísta retoma a fábula O gato de
botas, de Perrault, pertencente ao conto de fadas do século XVII, e a
compara com versões mais recentes. Para isso, usa O gato de botas, texto da escritora Angela Carter, onde estão
presentes muitos dos elementos do realismo fantástico e tons operísticos
derivados de As bodas de Fígaro e Don Pasquale. Na versão de Carter,
segundo Desblache, há reviravoltas inusitadas que questionam as fronteiras do
humano e do não humano. Ela ainda explica que os animais desse conto de
Carter são retratados como seres felinos e agentes de contraste que realçam
deficiências humanas. É como dizer que neste conto os gatos miam, rosnam e
até banham os seus ânus com a língua, coisa natural no universo dos bichanos.
Lucile Desblache finaliza lucidamente seu ensaio realçando o gato de
botas de Carter e confirmando que poucos conseguem fazer uma ressignificação
de uma fábula ou de um conto de fadas como fez Carter.
Professora titular de universidade francesa (1992-2005), Desblache
produz um ensaio que desde o início faz com que o leitor adentre nos bosques
de sua literatura e reencontre imagens da infância, como no caso dos patos
chamarizes que atraem outras aves à morte e também no que se relaciona ao
gato de botas. Para que as dúvidas sejam dirimidas de vez, ela usa a força
dos teóricos atuais e bem vistos pelo meio acadêmico. Desta forma, ela conduz
o leitor rever e refletir sobre os conceitos de deixar viver e deixar morrer
– que remetem ao pensamento de Foucault – presentes no conto de Coetzee, e
até mesmo os próprios conceitos sobre as fábulas e outros textos que trazem
animais como personagens.
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Resenha Crítica "As Vozes dos bichos Fabulares: animais em contos e fábulas" de Lucile Desblache
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