
Resenha
Crítica
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Autor da Resenha:
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Philipe Macedo Pereira
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Referência do Texto:
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GADAMER,
Hans-Georg. Escrever e falar (1983). In: Hermenêutica
em retrospectiva. Tradução Marco
Antônio Casanova. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009
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Palavras-chave (2):
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Escrita,
Oralidade
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Desenvolvimento
do Texto:
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Em “Escrever e falar”, de 1983,
Gadamer propõe discorrer sobre os atos da escrita e de oralidade, de modo a
comparar os dois modos e estabelecer um paralelo com seus usos no lecionar.
Para o autor, tanto a palavra escrita
quanto a falada devem ser pensadas quanto aos seus usos. Cita Platão ao
dizer: “A palavra escrita,[...], é duvidosa para o pensamento” (GADAMER,
1989, p. 370). Porém, para o filósofo também “[...] a oratória torna-se
suspeita, logo que alcança uma certa maestria” (p.370).
Gadamer também se refere à escrita
como um diálogo efetuado pelo escritor através do seu escrever, um ato de
certa forma solitário. E critica o academicismo que torna, os professores
“mimados” e mantendo diálogos com grupos que conhecem seus temas de estudos,
sem espaço para um pensar em si: “Nós permanecemos por semanas e meses a fio
em diálogo com os mesmos parceiros que nos compreendem [...], mesmo que nós
mesmos por vezes não consigamos nos compreender” (p.370).
De forma coerente, o autor aponta
as dificuldades da escrita, seja ao procurar pelas palavras adequadas,
encontrá-las, exercitar “ [...] a escuta tensa ao outro [...]” (p.371). E
declara preferir deixar o ato de escrever para o último momento, por vontade
ou pressões externas. E, a partir de
comentário do poeta Paul Valéry, esboça um comparativo entre escrita
literária e escrita acadêmica, definindo a primeira como ato fluido, onde as
palavras são lançadas ao papel, “[...] um todo em forma de canção [...]”
(p.371), enquanto a segunda forma de escrita é marcada pela temporalidade,
pela espera ou adiamento do escrever.
Hans-Georg Gadamer encerra
discorrendo de forma acertada sobre o consolo da escrita para o escritor, que
é o “eco” ou reprodução de suas palavras por outras pessoas, e pontualmente
contribuindo para as discussões relacionadas ao escrever, na medida em que
declara indiretamente que todo escritor deseja ser lido e escreve a alguém,
ainda que seja um pequeno grupo ou uma única pessoa.
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