Linguagem,
Verdade e Conhecimento
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Philipe
Macedo Pereira, mestrando em Patrimônio Cultural e Sociedade da UNIVILLE
Thiago
Túlio Pereira, acadêmico de Letras da UNIVILLE
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Referência do Texto:
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MERLEAU-PONTY,
M. O algoritmo e o mistério da linguagem. In: MERLEAU-PONTY, M. O Homem e a Comunicação: A Prosa do Mundo.
Rio de Janeiro: Edições Bloch, 1974. p. 125-138.
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Palavras-chave (3):
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LINGUAGEM
– CONHECIMENTO – VERDADE
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Desenvolvimento
do Texto:
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Em
“O algoritmo e o mistério da linguagem”, o filósofo fenomenólogo francês
Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) trata da linguagem e sua relação com a
verdade, o conhecimento e a percepção, utilizando como analogia o ordenamento
matemático. Trata-se do sexto capítulo do seu livro “O Homem e a Comunicação:
A Prosa do Mundo”, primeira edição de 1974, publicado no Brasil pela Bloch
Edições, Rio de Janeiro.
Para o autor, a linguagem não é
significada tão somente aos usos habituais ou convencionais, até mesmo não se
preocupando com uma significação, em certos momentos. Dentro da própria
linguagem, ela existe nela mesma, lançando como exemplo o caso dos
pensamentos, que na visão de Merleau-Ponty são palavras criadas por palavras
que, por sua vez, resultam em mais significações de linguagem. Também, é abordada
a questão da palavra enquanto ruído, o qual se manifesta nas palavras que são
ditas sem um pensar prévio, como um frugal aperto de mão, apoiando-se no
filósofo francês Jean Paulhan para sustentar sua teoria de que a linguagem
quando falada “[...] não se contenta em designar pensamentos como um número,
na rua, designa a casa de meu amigo Paul – mas realmente se metamorfoseia
neles assim como eles se metamorfoseiam nela [...]” (p.194).
Merleau-Ponty também pondera que
não há definições prontas para a linguagem, posto que no momento em que ela é, ou que pretensamente é postulado um
ser da linguagem, não há mais como voltar atrás e
questioná-la, pois já se possui um significado produzido com relação a ela:
“A linguagem só permanece enigmática para quem continua a interrogá-la, isto
é, a falar dela” (p.197). Desta forma, o filósofo postula a procura, o
questionamento da linguagem como forma de manter o mistério em torno dela,
pois no momento em que ela é utilizada na prática cotidiana, perde-se de fato
esta busca e tem-se apenas um uso.
Na sequência, Maurice
Merleau-Ponty pontua que encontramos nossas palavras, por vezes, nas palavras
do outro, levando-nos a admitir que “[...] não vivo somente meu próprio
pensamento, mas que, no exercício da fala, me torno aquele que eu escuto” (p.198). É esse caráter dinâmico
da linguagem que molda o próprio movimento do pensamento, do conhecimento e
da verdade.
O autor, então, propõe compreender
a linguagem como reconstrução algorítmica, procurando entender a verdade
linguística como fosse um processo numérico, com relações entre as palavras.
E dá o exemplo de objetos que possuem um uso primeiro, mas em certo momento
se deslocam de sua função primária para desempenhar outro papel, sofrendo uma
alteração do sentido, tais quais as palavras em certos momentos.
Para Merleau-Ponty, a percepção
parte de um “eu posso”, de modo que a construção da verdade deriva de “eu
penso” (p.200), um ato de reconhecimento interior que valora a linguagem. O
filósofo afirma também que não é mais possível ao matemático trabalhar com as
operações já conhecidas e apenas isso, ele deve procurar as outras hipóteses,
de modo que “[...] a própria operação seja legitimada pela natureza do ser
matemático sobre o qual incide” (p.201). Na visão do autor, ao se encontrar
no algoritmo, a linguagem é fluida e liberta de qualquer compromisso que
tenha com os signos.
Merleau-Ponty também discorre
sobre as experiências que tem “o caráter de verdade” (p.202), classificando-as como eventos que, ordinários,
em dado momento se aprofundam, deixam de ser opacos, fazem-se transparentes e
são sentidos ad eternum. Desta
forma, o autor traz à discussão os termos “propriedade” e “ser”, afirmando
que há “elos indestrutíveis” entre elas, e que as relações estabelecidas
entre elas são “sinônimas” (p.203).
O filósofo destaca outro ponto que
é a questão da percepção. Para o autor, a percepção não é o conhecimento, mas
o prescinde. O conhecimento, portanto, é aquilo que se constrói a partir de
percepções do mundo, envolvendo aquele que o percebe e aquilo que é
percebido. Esse diálogo constrói a percepção, que, dotada de sentido,
transforma-se em conhecimento. A percepção, para o filósofo, apenas
reconstitui (o númeno) aquilo que
já está constituído e existe por si só (o fenômeno).
Na esteira das discussões sobre
percepção e conhecimento, outro conceito relevante apresentado no texto é o
de verdade. Para Merleau-Ponty, a verdade é um “devir” de sentidos, ou seja,
é um elemento em constante dinamismo. Quando, através da percepção e das
formulações, se constitui um novo conhecimento, a verdade está nesse
movimento de (re)construção.
Todo conhecimento “novo” parte de
um conhecimento “antigo”, seja aquele que promove sua continuidade ou sua
ruptura. A cada nova resposta aparecem infinitas perguntas. Respondê-las não
é constituir a verdade; esta não se esgota em si. Ela está nesse eterno
“continuum” de “perguntas x respostas”, “percepções x conhecimentos” que é
mediado pelas percepções e conhecimentos humanos.
Finalmente, ao retomar a
questão do “algoritmo” e as relações entre a linguagem e a matemática,
Merleau-Ponty pontua que não há conhecimento que se esgote, haja vista que as
demandas surgem de acordo com as novas formulações da realidade. Dessa forma,
fazendo uma analogia com o corpo, que ele assume como “o veículo em busca do
ser no mundo” (p. 213), o autor coloca “a fala como o veículo em busca da
verdade” (p. 213), ou seja, esse eterno “devir de sentidos”.
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Observações:
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O
texto é um importante subsídio para discussões sobre linguagem, verdade e
conhecimento, podendo mediar debates de Filosofia, Epistemologia (para
qualquer área do conhecimento, neste caso), Letras e áreas afins à
Comunicação. Sua linguagem complexa e estrutura em forma de ensaio provocam
olhares múltiplos de leitura, que viabilizam debates. Essa prática pode ser
utilizada para elucidar trechos de difícil compreensão presentes em alguns
parágrafos. Como forma de contextualização filosófica, uma leitura panorâmica
sobre a Fenomenologia e Merleau-Ponty talvez seja interessante.
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Resenha crítica do capítulo VI: "O algoritmo e o mistério da linguagem", de Merleau-Ponty
Resenha Crítica III: "A partilha do Sensível", de Jacques Rancière
Resenha Crítica
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Philipe Macedo Pereira
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Referência
do Texto:
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RANCIÉRE, Jacques. A
Partilha do Sensível: estética e política / Jacques Rancière; tradução de
Mônica Costa Netto. – São Paulo: EXO experimental org.; Ed. 34, 2005.
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Palavras-chave (3):
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Arte; política; estética
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Desenvolvimento do Texto:
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Na obra “A partilha do sensível:
estética e política”, o filósofo francês Jacques Rancière discorre sobre a
indissociabilidade entre arte e política, assim como os conceitos vagos com
relação à modernidade, e também pondera acerca da vanguarda e
pós-modernidade, contribuindo com as discussões do pensamento contemporâneo.
No capítulo foco desta resenha, intitulado “Dos regimes da arte e do pouco
interesse da noção de modernidade”, o filósofo trata de alguns conceitos
centrais relacionados à criação da arte no século XX e noções políticas
associadas.
Rancière primeiramente argumenta
que as noções de modernidade e vanguarda, relacionadas ao“regime da arte”, muitas
vezes não levam em conta “[...] a historicidade própria a um regime das artes
em geral” (p.27), os caminhos da arte ao longo de sua construção, e também
“[...] as decisões de ruptura ou antecipação que se operam no interior desse
regime” (p.27). Então, ao tratar da arte, o filósofo discorre sobre três regimes de
identificação da arte, sendo o primeiro chamado regime ético das imagens, onde a arte não é assim chamada, mas se
encontra associada às imagens. Dentro desta questão, chama atenção também o
fato apontado por Rancière acerca dos simulacros, de como eles imitam modelos
pré-definidos com fins específicos.
O segundo regime apontado pelo
autor é o poético, também chamado
representativo. Tal regime trata do fazer artístico. “É o feito do poema, [...], que importa, em
detrimento do ser da imagem, cópia
interrogada sobre seu modelo” (p.30). Desta forma, o poético / representativo define as maneiras de fazer e da
apreciação de boas imitações, e também as representações dessas formas de
observar.
O terceiro regime é o estético, o qual segundo Rancière, trata do modo de ser do que é
artístico, o “[...] modo de ser específico daquilo que pertence à arte, ao
modo de ser de seus objetos” (p.32). O regime estético remove da arte a
obrigação de ser vinculada a regras ou propósitos. O autor reflete que tal
regime é um momento de experimentação, e discorre que o estético,
primeiramente, tenciona obter uma relação do antigo com o novo na arte.
A partir destes conceitos, Rancière
promove uma discussão sobre a noção de modernidade vigente e sobre pareceres
confusos relacionados a ela, aponta dois equívocos: o de “[...] uma
modernidade simplesmente identificada à autonomia da arte [...]” (p.38), de
forma que cada arte exploraria seu potencial dentro de seus meios específicos,
sem se ater aos significados outros (um exemplo do autor é a literatura ou
poética sendo analisadas sem levar em conta seus usos comunicacionais), e
também o equívoco de conceber a arte como “[...] forma e auto-formação da
vida” (p.39), na tentativa de valorar o que é artístico e dar um sentido.
Desta forma, o autor conduz o leitor a indagar-se se há de fato uma obrigação
da arte em servir a algo ou alguém.
Ao discorrer sobre a modernidade,
Rancière liga os movimentos da arte com a questão política, demonstrando que
tanto arte quanto política partem a partir de um ideal, de utopias, e mesmo
não sendo possível alcançar, talvez, o que está inicialmente proposto,
trabalham neste meio. E os partidos então, conforme o autor, reproduzem a
tentativa de se aproximar do que é perfeito, ideal, segundo os critérios de
quem faz parte daquele grupo. Tal qual em grupos de arte.
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Observações:
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Rancière no capítulo “Dos regimes da
arte e do pouco interesse da noção de modernidade” aborda os movimentos da
arte associados à política, pois segundo sua visão, ambos são decorrentes de
um ideal e de utopias a serem alcançadas.
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Resenha Crítica II: "Hemenêutica em Retrospectiva", de Hans-Georg Gadamer

Resenha
Crítica
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Autor da Resenha:
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Philipe Macedo Pereira
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Referência do Texto:
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GADAMER,
Hans-Georg. Escrever e falar (1983). In: Hermenêutica
em retrospectiva. Tradução Marco
Antônio Casanova. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009
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Palavras-chave (2):
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Escrita,
Oralidade
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Desenvolvimento
do Texto:
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Em “Escrever e falar”, de 1983,
Gadamer propõe discorrer sobre os atos da escrita e de oralidade, de modo a
comparar os dois modos e estabelecer um paralelo com seus usos no lecionar.
Para o autor, tanto a palavra escrita
quanto a falada devem ser pensadas quanto aos seus usos. Cita Platão ao
dizer: “A palavra escrita,[...], é duvidosa para o pensamento” (GADAMER,
1989, p. 370). Porém, para o filósofo também “[...] a oratória torna-se
suspeita, logo que alcança uma certa maestria” (p.370).
Gadamer também se refere à escrita
como um diálogo efetuado pelo escritor através do seu escrever, um ato de
certa forma solitário. E critica o academicismo que torna, os professores
“mimados” e mantendo diálogos com grupos que conhecem seus temas de estudos,
sem espaço para um pensar em si: “Nós permanecemos por semanas e meses a fio
em diálogo com os mesmos parceiros que nos compreendem [...], mesmo que nós
mesmos por vezes não consigamos nos compreender” (p.370).
De forma coerente, o autor aponta
as dificuldades da escrita, seja ao procurar pelas palavras adequadas,
encontrá-las, exercitar “ [...] a escuta tensa ao outro [...]” (p.371). E
declara preferir deixar o ato de escrever para o último momento, por vontade
ou pressões externas. E, a partir de
comentário do poeta Paul Valéry, esboça um comparativo entre escrita
literária e escrita acadêmica, definindo a primeira como ato fluido, onde as
palavras são lançadas ao papel, “[...] um todo em forma de canção [...]”
(p.371), enquanto a segunda forma de escrita é marcada pela temporalidade,
pela espera ou adiamento do escrever.
Hans-Georg Gadamer encerra
discorrendo de forma acertada sobre o consolo da escrita para o escritor, que
é o “eco” ou reprodução de suas palavras por outras pessoas, e pontualmente
contribuindo para as discussões relacionadas ao escrever, na medida em que
declara indiretamente que todo escritor deseja ser lido e escreve a alguém,
ainda que seja um pequeno grupo ou uma única pessoa.
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Resenha Crítica I: "Hermenêutica em Retrospectiva" de Hans-Georg Gadamer

Resenha
Crítica
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Autor da Resenha:
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Philipe Macedo Pereira
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Referência do Texto:
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GADAMER,
Hans-Georg. Ciência histórica e linguagem (1987). In: Hermenêutica em retrospectiva. Tradução Marco Antônio Casanova. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2009
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Palavras-chave (3):
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Linguagem,
hermenêutica, ciência histórica
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Desenvolvimento
do Texto:
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Em “Ciência histórica e linguagem”,
Gadamer discorre sobre a importância da linguagem para a construção de uma
história humana. O autor inicia seu texto citando o filósofo Koselleck a
partir de ideias deste sobre a obra Ser
e tempo, de Heidegger, para tratar da hermenêutica, a qual permeia o
escrito do filósofo alemão.
O autor aponta a questão, percebida
principalmente pelos grupos mais jovens, com relação à falta de esperanças no
futuro, e a necessidade de pensar a filosofia com vistas não somente de
retrospectiva, mas também analisando o que pode estar à frente. E destaca a
procura humana pelo sentido, o que representaria uma resistência às
adversidades: “[...] em face de todos os desafios que a realidade nos
apresenta por meio do disparate, da loucura e da ausência de sentido
avassaladora, resistir e permanecer incansável na busca pelo compreensível e
pelo sentido” (GADAMER, 1987, p.341).
Hans-Georg Gadamer faz referência a
Aristóteles que pontua a linguagem como a distinção maior entre humanos e
animais, uma vez que esta, na visão do filósofo, permite não apenas
estabelecer comunicação através de sinais, mas permite ao ser humano “[...]
um campo de jogo de possibilidades, um campo de jogo de outro tipo, que é
aberto para nós” (p.342). Para Gadamer, a linguagem abre novas possibilidades
de representações das coisas e afeta o agir racional, através da habilidade
de “deixar algo permanecer incerto” (p.343). Pontua-se também a possibilidade
de (re)ordenação através da linguagem, de modo a apagar ou modificar erros
anteriores de comunicação.
No primeiro parágrafo da página 344,
o autor faz referência ao historiador alemão Droysen e aos filósofos
Schleiermacher e Dilthey para tratar da ciência histórica enquanto
constituindo elementos da hermenêutica, procurando a compreensão dos fatos e
estabelecendo pensares. Gadamer cita o caráter linguístico da hermenêutica
como algo que além de dizer respeito aos textos, também implica “à condição fundamental do
ser de toda ação e de toda criação humanas [...]” (p.344). O filósofo também
cita que a linguagem está presente ao narrar-se histórias de guerra, bem como
“o suicídio e as formas de diferenciação entre público e secreto” (p.345). E
aponta o texto histórico como algo que nunca está concluído, mas abre espaço
para incógnitas.
Gadamer relevantemente pontua que o
fascínio das narrativas históricas está no caráter hermenêutico delas, ou
seja, há o reconhecimento de si nos outros, e que o olhar compreensivo humano
deveria ser dirigido “para o que é comum a todos nós, algo que conhecemos
melhor no outro do que em nós mesmos” (p.346). Dessa forma, evidencia a
necessidade de olhar para a história sob um viés hermenêutico, reconhecendo
neste movimento a linguagem como ponto central de seu discurso.
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Documentário: O Lugar Antes de Mim
Documentário audiovisual intitulado "O Lugar Antes de Mim", desenvolvido por Karla Adriana Nascimento Cunico, vinculado ao Mestrado Patrimônio Cultural e Sociedade.
Objetivo: Divulgar a existência e as características do Sambaqui Guaraguaçu, município de Pontal do Paraná.
Resenha Crítica: Aula proferida em 28 de janeiro de 1976 Curso no Collège de France (1975-1976), de Michael Foucault
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